sábado, 1 de maio de 2010

Necessidades Afiliativas - Um Caso de Vida


O Luís é um jovem de 17 anos que ingressou num curso CEF, o ano passado, porque se considerava que ele era um aluno problemático, com uma adesão bastante negativa à escola e à aprendizagem em contexto escolar.

Este jovem apresenta bastantes dificuldades de relacionamento motivadas pela falta de vinculação familiar desde muito cedo na sua vida.

Nascido numa família destruturada, a viver com a mãe e vários irmãos, o Luís, como filho mais velho foi-se transformando na figura de referência masculina da casa. Apenas com dez anos, já tinha a seu cargo o bem-estar dos irmãos mais novos e a sobrevivência da mãe. Aos doze anos pediu para ser institucionalizado.

Se analisarmos os comportamentos afiliativos do Luís à luz da classificação proposta por Robert Weiss (1974) para as necessidades afiliativas, obteremos o seguinte:

Vinculação - Desvinculou-se da relação com a família biológica por iniciativa própria, pois tomou consciência que a mesma era prejudicial para o seu desenvolvimento pessoal. Criou uma vinculação com os elementos da equipa de acolhimento da residência onde actualmente habita. Isto vai um pouco contra a teoria de Weiss que afirma de geralmente as crianças estão fortemente vinculadas aos pais, a não ser que encaremos que esta equipa assumiu, de acordo com as necessidades do jovem, o papel de pais. Igualmente, existe uma vinculação com a Directora de Turma

Integração social - Tendência ao isolamento e à atitude reservada. No início da frequência do curso, teve uma difícil integração. Tem-se verificado uma melhoria na sua integração na comunidade escolar e no seu ambiente 'familiar'. A sua integração em novas situações sociais tem sido positiva, nomeadamente o período da formação em contexto de trabalho em que, de acordo com o responsável pela oficina, o Luís foi sempre um formando cumpridor, respeitador de tudo e de todos, apesar de não ser muito comunicativo.

Esta evolução na sua capacidade de integração demonstra bem uma atitude tímida em se sentir pertença das comunidades onde se move.

Certeza restabelecida de valor foi-lhe dada através do reforço positivo em contexto escolar, juntamente com o contexto de acolhimento.

O sentimento de aliança consistente deste caso é baseado na relação 'familiar' com dois dos membros da equipa de acolhimento do lar e na figura da Directora de Turma que é a sua referência feminina em contexto escolar.

Curioso notar que as suas duas maiores referências, um dos membros da equipa de acolhimento e a DT são mulheres, o que pode ser explicado pela carência ou negatividade da referência da mãe biológica.

Obtenção de encaminhamento - a vida deste jovem tem sido baseada nesta necessidade. Ele próprio tem traçado o seu caminho e delineado os objectivos que quer para a vida.

Oportunidade de Educação - Recusa usufruir da oportunidade de educação dos irmãos devido ao peso que essa situação transporta consigo.

A necessidade de afiliação do Luís é uma conquista relativamente recente, resultante da integração escolar e de alguma maturidade obtida com as vivências.

Há pouco tempo atrás, fez-se uma tentativa controlada de retorno à casa materna, como uma nova oportunidade de convivência. Não resultou e regressou ao processo de vinculação com o lar de acolhimento onde se sente afiliado.

Tem sido um trabalho de equipa, que está a obter algum êxito, a adaptação do Luís ao diferentes contextos. A escola já não é encarada por ele como um contexto negativo. Antes pelo contrário, tenta dar o seu melhor e gosta de receber o reconhecimento da equipa pedagógica. É o aluno com melhor avaliação da sua turma.

Contudo, relativamente à sua vinculação com a família biológica é uma batalha perdida. O Luís recusa-se a voltar para ela. Neste momento está a ser preparado para, ao atingir a maioridade, ser transferido para as residências de autonomia, onde se desvinculará, gradualmente, da sua 'família' de acolhimento. Ele quer ser construtor do seu próprio contexto.