sábado, 24 de abril de 2010

Interaccionismo Simbólico e Escola de Palo Alto


Comunicação é o nome que se dá ao modo como o ser humano interage com os outros e revela as suas atitudes de agrado e desagrado, pertença e não pertença.

Da Escola de Palo Alto saíram os axiomas onde, de acordo com os seus seguidores, está ancorada a comunicação: é impossível a não comunicação, pois mesmo a ausência de comunicação é significativa de alguma coisa, todo o tipo de manifestação humana é sinónimo de interacção; existe sempre um aspecto de conteúdo e relação no acto comunicativo; a natureza de uma relação assenta no quadro de referências que os interlocutores fazem uns dos outros; a comunicação pode ser digital ou analógica; as trocas comunicacionais podem ser simétricas ou complementares, conforme se baseiem na igualdade ou na diferença.

Do Interaccionismo Simbólico surge a ideia que todas as interacções são sustentadas por uma carga simbólica e que é na interpretação desses símbolos que se forma o mundo social, regulado por regras de convivência mútua e atitudes comportamentais. A linguagem, seja ela de que tipo for, é o modo como os indivíduos expressam os seus símbolos, percepcionados e manipulados pelo pensamento. É a interpretação do significado dos símbolos que determina a acção. Símbolos, linguagem e pensamento são os três princípios fundamentais do Interaccionismo Simbólico.

Em contexto escolar, existe a tendência para um certo desequilíbrio nas relações interpessoais tanto professor/alunos como entre os pares. Esta tendência não é exclusiva deste contexto e parece-me inata a todos os tipos de contexto.

A expressão popular “saber viver e conviver” é reveladora da necessidade de um comportamento transaccional equilibrado baseado na ideia que todos somos diferentes e que fazemos parte de um contexto de interacções simbólicas que não são percepcionadas do mesmo modo por todos os actores contextuais.

A importância da aceitação dos papéis é o primeiro passo para uma boa interacção. Todos nós temos uma imagem a ‘passar’ e queremos manter uma determina actuação social, isto é, temos de agir de acordo com as expectativas que os outros têm de nós, de modo a não os desiludir. Somos todos actores sociais.

Um professor deve ter consciência do tipo de sinais que deve comunicar aos alunos, mostrando-lhes, ao mesmo tempo que existem limites comunicacionais que devem ser respeitados por ambas as partes de modo a evitar o conflito. O mesmo se aplica aos alunos.

Como vivemos em sociedade, temos de perceber que todo o tipo de comportamento interactivo é uma actividade dirigida e é interpretado pelo outro de acordo com as suas percepções e sensibilidade, tendo sempre em conta os contextos em que essas interacções acontecem. E mesmo em contextos onde existem códigos comunicacionais comuns, como por exemplo a sala de aula, é necessário ter em mente que existem outros contextos exteriores, inerentes às vivências sociais e culturais dos interlocutores (a que Bateson chama trocas circulares) a interferir e que podem distorcer o objectivo da comunicação.

Em suma, comunicar é um acto pessoal, social e cultural.

Relacionamento em Contexto Escolar


Em contexto escolar, o equilíbrio das relações entre os alunos e professores é uma das pedras basilares para uma boa gestão do processo ensino/aprendizagem.
Neste processo, há a necessidade de se estabelecerem laços de confiança, interajuda, partilha, aceitação e respeito entre ambas as partes e para consigo mesmos.

Gostaria de salientar que o equilíbrio nas premissas de um bom relacionamento não é só da competência do aluno.
Se, por um lado, os alunos precisam de ser contextualizados, vinculados, afiliados e de sentir que são aceites e apoiados pelos diversos contextos existentes na escola, os professores, por outro lado, para conseguirem concretizar a sua missão vinculativa de uma forma positiva também precisam de se sentir vinculados, contextualizados, afiliados, aceites, capazes de lidar com a rejeição e as adversidades, serem flexiveis e solidários.
O equilíbrio da sua actuação em contexto escolar está dependente do equilíbrio nos outros contextos da sua vida. Os seus sucessos e fracassos dependem do modo como consegue gerir e diferenciar as suas actuações e não deixar que os aspectos menos bons influenciem a sua actuação nos outros contextos.
A falta de equilíbrio nos relacionamentos provoca a rejeição das partes ou a auto-rejeição, em contextos mais graves.

Em resumo, sendo a escola um contexto existente numa fase tão importante no desenvolvimento das crianças e jovens, é necessário que ela contribua de forma desejável para a criação de indivíduos socialmente equilibrados e portadores de uma capacidade de socialização flexível e de respeito mútuo.

Afiliação


A Afiliação é a necessidade que o ser humano tem de se relacionar com as outras pessoas.

a afiliação é uma estratégia que nos permite manter algum equilíbrio nas vivências sociais.
São seis as necessidades afiliativas:
1) Vinculação
2)Integração social
3) Certeza restabelecida de valor
4) Sentimento de aliança consistente
5) Obtenção de encaminhamento
6) oportunidade de educação

As relações humanas vistas à luz da teoria da vinculação (Bowlby, 1969) - Esta teoria defende que todas as pessoas criam importantes referenciais humanos de comportamento, normalmente usando os exemplos das pessoas quelhes estão mais próximas. São estes referenciais humanos que nos passam as noções de bem e mal, correcto e incorrecto e todas as outras noções relacionadas com acções comportamentais. A perda de uma desses referências pode desiquilibrar o sistema.

Apesar de a vinculação estar relacionada com uma necessidade biológica do ser humano, a escolha das figuras referenciais está relacionada com a necessidade de segurança emocional e protecção.
Esta necessidade irá durar ao longo da vida pois, durante a sua existência e nas novas vivências, as pessoas têm necessidade de sentir um ponto de conforto, uma base segura (Mary Ainworth, 1989) que lhe sirva de suporte motivacional para o agir e o pensar.
Uma boa base segura, originada numa boa vinculação, produz pessoas seguras e dispostas a enfrentar as novas situações com uma postura confiante e determinada.

Passando esta teoria para um contexto educativo, é muito importante perceber que uma criança quando ingressa numa escola tem de enfrentar um novo contexto que, à partida, lhe é adverso.
A primeira necessidade da criança é a afiliação. Procede à procura de indivíduos com os quais possa estabelecer uma relação de vinculação para se sentir segura.
Nos adultos, procura uma vinculação baseada nas experiências parentais e/ou familiares. Nas outras crianças procura uma vinculação baseada no espelhamento de atitudes e interesses.
Se este processo for bem sucedido, a criança poderá ter um percurso sócio-escolar equilibrado, construído numa boa integração social, com a elevação da auto-estima, noção de interajuda e reciprocidade e a capacidade de lidar melhor com a rejeição.
A falha de apenas uma destas permissas pode desiquilibrar o sistema e não permitir a concretização do processo de forma total.
Pensar no processo de vinculação nestes termos, recorda-me o caso de crianças que gostam de ir à escola mas não gostam de ir às aulas. Aqui se confirma que existe uma vinculação com os pares e não com os adultos.

Interdependência, Aceitação e Solidariedade


Nas relações interpessoais, é necessário levar em conta que o ser humano é um ser de afectos.
As relações que mantemos com os outros, a forma como correspondemos aos seus estímulos e o modo como eles reagem ao nosso agir revela que fazemos parte de um sistema complexo de troca de estímulos afectivos. Nós somos um espelho daquilo que nos rodeia e influencia e precisamos de ter em mente, de forma bem clara, que nem todos reagimos aos estímulos da mesma maneira. Perceber a diferença, compreende-la e respeitá-la é um dos caminhos para uma boa relação interpessoal.
As relações interpessoais são uma questão de sobrevivência da espécie. Através delas, os seres humanos estabelecem relações de interajuda que permitem colmatar lacunas mútuas. A flexibilidade é a chave para um relacionamento saudável.

As relações saudáveis são baseadas em três elementos:
1) Interdependência - é um conceito relacionado com a necessidade de afiliação e outros tipos de necessidades de relacionamento.
Baseia-se na ideia de que tudo e todos estamos relacionados uns com os outros e que existe uma necessidade intrínseca de troca mútua de interesses.

2) Aceitação - O processo pelo qual, através do reconhecimento da diferença, somos capazes de as respeitar, permitindo ao outro uma existência diferenciada mas tranquila, sem qualquer tipo de manipulação de ambas as partes.
Por vezes, a aceitação da diferença permite-nos olhar para a nossa realidade de uma outra forma, o que nos poderá trazer mais conhecimento, experiência e flexibilidade em relação à vida.
A aceitação, em oposição à intolerância, é a base de uma relação baseada no respeito mútuo. Aceitando a diferença, permitimos ao outro tornar-se mais confiante.

3) Solidariedade - Ser solidário é estar disponível para ajudar os outros de forma permanente e altruísta.