A tutoria escolar no ensino secundário: algumas reflexões
A tutoria no ensino secundário
A metodologia Tutal tem sido aplicado nos 2º e 3º ciclos do ensino básico. Tal prende-se, essencialmente, com os objectivos de prevenção de abandono escolar e promoção do sucesso, bem como de articulação com a família dos alunos.
A intervenção no ensino secundário iniciada na Escola Secundária Vitorino Nemésio põe novos desafios à metodologia Tutal, nomeadamente em duas áreas:
a) Autonomia dos alunos – alguns estudos demonstram que este aspecto é particularmente relevante, no caso de adolescentes e jovens adultos, especialmente no caso dos rapazes (Karcher) 2008. De facto, os jovens do sexo masculino, em fases mais avançadas da adolescência, tendem a ser mais resistentes à intervenção de adultos conotados com a disciplina, a definição de regras ou o status quo. Tal deve ser enquadrado, precisamente, na fase que atravessam em termos de desenvolvimento, marcada por movimentos de autonomização que, não raras vezes, assumem a forma de desafio às normas sociais vigentes. Por outro lado, comparativamente às raparigas, os rapazes são tendencialmente mais orientados para a acção, levando a que a sua recusa da intervenção de adultos em determinados aspectos seja mais visível, uma vez que assume a forma de comportamentos abertos e explícitos. Paralelamente, os próprios adultos requerem cada vez maior responsabilidade dos jovens pelos seus próprios actos. No sistema formal de ensino, isso significa uma maior assumpção pelo protagonismo do aluno na aprendizagem que faz e, consequentemente, no sucesso ou insucesso escolar.
b) Suporte para a motivação – as questões da motivação/desmotivação são particularmente relevantes nas fases mais adiantadas da adolescência. Por outras palavras, acabam por assumir um carácter mais central, face às exigências do sistema formal de ensino, no sentido da responsabilização crescente do aluno, como atrás ficou já explícito.
Linhas de orientação gerais
Perante estes dois aspectos particularmente relevantes no acompanhamento em tutoria dos alunos que frequentam o ensino secundário, consideram-se importantes as seguintes linhas de acção:
1. Reforçar a vertente de aconselhamento da tutoria individual – a tutoria deve ser, essencialmente, um espaço focalizado no sucesso escolar. Os tutores deverão estar particularmente centrados na questão do sucesso e deve ser esse o primeiro motivo de abordagem dos alunos. É essencial que questões do funcionamento familiar ou pessoal do aluno sejam sempre abordadas deste ponto de vista, ou seja, como aspectos que poderão melhorar ou interferir no bem-estar do aluno e, consequentemente, no seu desempenho escolar. A entrevista motivacional como modo de abordagem, poderá funcionar como técnica central deste tipo de interacção.
2. Formalizar alguns aspectos do acompanhamento – devido às questões de alguma autonomização ensaiada pelos alunos nesta fase da adolescência, será importante que alguns aspectos de interacção do aluno sejam mais formalizados. Por exemplo: a) as interacções poderão passar a ser feitas em espaços como gabinetes ou salas; b) os alunos poderão ser chamados, formalmente, através de marcação de uma hora de atendimento, para discussão de aspectos relevantes do seu percurso escolar (e.g. absentismo, notas escolares nas disciplinas Y ou X); c) deverão evitar-se abordagens muito personalizadas em frente a colegas, nos espaços comuns da escola, as quais poderão ser sentidas como inoportunas pelos alunos.
3. Favorecer encaminhamentos – embora mostrando disponibilidade para abordar aspectos do foro mais pessoal do aluno, os tutores deverão favorecer os encaminhamentos necessários. Será importante que o aluno seja aconselhado a dirigir-se a serviços especializados, quando detectado um determinado factor psicossocial ou familiar de interferência na sua vida escolar. Factores de maior desestruturação familiar deverão ser comunicados ao Instituto de Acção Social, sendo esta a entidade que deverá intervir.
4. Transformar o espaço de tutoria grupal num momento de reflexão e discussão sobre aspectos de organização do desempenho escolar – poderá ser importante que a tutoria escolar funcione, essencialmente, como um espaço de aconselhamento para um maior aproveitamento escolar. Poderão continuar a ser discutidos aspectos como absentismo ou a ser desenvolvidos mecanismos de apoio ao método de estudo. Caso haja possibilidade de o fazer, poderão ser introduzidos momentos de discussão sobre o aproveitamento numa dada disciplina específica, com a presença do professor que a lecciona.
5. Organização de espaços de interacção com a família e outros significativos pelos próprios alunos – os professores tutores deverão dar aos alunos a iniciativa quanto ao modo como poderão ser organizados, da melhor forma, os espaços de interacção com a família. Por outras palavras, se previamente eram os professores tutores a organizar esses momentos e a definir de que modo se desenrolavam serão agora os alunos a decidir se querem momentos de interacção informal e como os querem organizar (e.g. se querem, por exemplo, mostrar um pequeno vídeo das suas actividades ou organizar uma pequena exposição ou até uma visita ao espaço oficinal, com a presença do professor tutor). É importante que, nesta dimensão, os professores tutores não abdiquem da sua função de aconselhamento, isto é, embora sejam os alunos a tomar mais as rédeas do processo, é imperioso que os professores tutores evitem opções claramente desadequadas, ao mesmo tempo que procuram influenciar positivamente a discussão, enquanto pessoas mais experientes.
6. Comunicação com os encarregados de educação – a este nível será, possivelmente, de evitar abordagens como visitas domiciliárias e de ponderá-las apenas e só em casos de alunos bastante dependentes de uma orientação promovida pelo professor tutor. Todavia, nestes casos, os alunos deverão estar presentes e assumir responsabilidades pelas soluções a implementar. Dever-se-á, também, evitar visitas sucessivas ao mesmo agregado, perante o incumprimento reiterado do aluno, mesmo que esteja em causa a sua continuidade. Em contrapartida, nestas situações, deverá ser reforçada a dimensão de aconselhamento individual do aluno desenvolvida no ponto 2.
Karcher, M. (2008). The study of mentoring in the learning environment (SMILE). A randomized evaluation of the effectiveness of school-based mentoring. Prevention Science, 9(2), 99-113.
A tutoria no ensino secundário
A metodologia Tutal tem sido aplicado nos 2º e 3º ciclos do ensino básico. Tal prende-se, essencialmente, com os objectivos de prevenção de abandono escolar e promoção do sucesso, bem como de articulação com a família dos alunos.
A intervenção no ensino secundário iniciada na Escola Secundária Vitorino Nemésio põe novos desafios à metodologia Tutal, nomeadamente em duas áreas:
a) Autonomia dos alunos – alguns estudos demonstram que este aspecto é particularmente relevante, no caso de adolescentes e jovens adultos, especialmente no caso dos rapazes (Karcher) 2008. De facto, os jovens do sexo masculino, em fases mais avançadas da adolescência, tendem a ser mais resistentes à intervenção de adultos conotados com a disciplina, a definição de regras ou o status quo. Tal deve ser enquadrado, precisamente, na fase que atravessam em termos de desenvolvimento, marcada por movimentos de autonomização que, não raras vezes, assumem a forma de desafio às normas sociais vigentes. Por outro lado, comparativamente às raparigas, os rapazes são tendencialmente mais orientados para a acção, levando a que a sua recusa da intervenção de adultos em determinados aspectos seja mais visível, uma vez que assume a forma de comportamentos abertos e explícitos. Paralelamente, os próprios adultos requerem cada vez maior responsabilidade dos jovens pelos seus próprios actos. No sistema formal de ensino, isso significa uma maior assumpção pelo protagonismo do aluno na aprendizagem que faz e, consequentemente, no sucesso ou insucesso escolar.
b) Suporte para a motivação – as questões da motivação/desmotivação são particularmente relevantes nas fases mais adiantadas da adolescência. Por outras palavras, acabam por assumir um carácter mais central, face às exigências do sistema formal de ensino, no sentido da responsabilização crescente do aluno, como atrás ficou já explícito.
Linhas de orientação gerais
Perante estes dois aspectos particularmente relevantes no acompanhamento em tutoria dos alunos que frequentam o ensino secundário, consideram-se importantes as seguintes linhas de acção:
1. Reforçar a vertente de aconselhamento da tutoria individual – a tutoria deve ser, essencialmente, um espaço focalizado no sucesso escolar. Os tutores deverão estar particularmente centrados na questão do sucesso e deve ser esse o primeiro motivo de abordagem dos alunos. É essencial que questões do funcionamento familiar ou pessoal do aluno sejam sempre abordadas deste ponto de vista, ou seja, como aspectos que poderão melhorar ou interferir no bem-estar do aluno e, consequentemente, no seu desempenho escolar. A entrevista motivacional como modo de abordagem, poderá funcionar como técnica central deste tipo de interacção.
2. Formalizar alguns aspectos do acompanhamento – devido às questões de alguma autonomização ensaiada pelos alunos nesta fase da adolescência, será importante que alguns aspectos de interacção do aluno sejam mais formalizados. Por exemplo: a) as interacções poderão passar a ser feitas em espaços como gabinetes ou salas; b) os alunos poderão ser chamados, formalmente, através de marcação de uma hora de atendimento, para discussão de aspectos relevantes do seu percurso escolar (e.g. absentismo, notas escolares nas disciplinas Y ou X); c) deverão evitar-se abordagens muito personalizadas em frente a colegas, nos espaços comuns da escola, as quais poderão ser sentidas como inoportunas pelos alunos.
3. Favorecer encaminhamentos – embora mostrando disponibilidade para abordar aspectos do foro mais pessoal do aluno, os tutores deverão favorecer os encaminhamentos necessários. Será importante que o aluno seja aconselhado a dirigir-se a serviços especializados, quando detectado um determinado factor psicossocial ou familiar de interferência na sua vida escolar. Factores de maior desestruturação familiar deverão ser comunicados ao Instituto de Acção Social, sendo esta a entidade que deverá intervir.
4. Transformar o espaço de tutoria grupal num momento de reflexão e discussão sobre aspectos de organização do desempenho escolar – poderá ser importante que a tutoria escolar funcione, essencialmente, como um espaço de aconselhamento para um maior aproveitamento escolar. Poderão continuar a ser discutidos aspectos como absentismo ou a ser desenvolvidos mecanismos de apoio ao método de estudo. Caso haja possibilidade de o fazer, poderão ser introduzidos momentos de discussão sobre o aproveitamento numa dada disciplina específica, com a presença do professor que a lecciona.
5. Organização de espaços de interacção com a família e outros significativos pelos próprios alunos – os professores tutores deverão dar aos alunos a iniciativa quanto ao modo como poderão ser organizados, da melhor forma, os espaços de interacção com a família. Por outras palavras, se previamente eram os professores tutores a organizar esses momentos e a definir de que modo se desenrolavam serão agora os alunos a decidir se querem momentos de interacção informal e como os querem organizar (e.g. se querem, por exemplo, mostrar um pequeno vídeo das suas actividades ou organizar uma pequena exposição ou até uma visita ao espaço oficinal, com a presença do professor tutor). É importante que, nesta dimensão, os professores tutores não abdiquem da sua função de aconselhamento, isto é, embora sejam os alunos a tomar mais as rédeas do processo, é imperioso que os professores tutores evitem opções claramente desadequadas, ao mesmo tempo que procuram influenciar positivamente a discussão, enquanto pessoas mais experientes.
6. Comunicação com os encarregados de educação – a este nível será, possivelmente, de evitar abordagens como visitas domiciliárias e de ponderá-las apenas e só em casos de alunos bastante dependentes de uma orientação promovida pelo professor tutor. Todavia, nestes casos, os alunos deverão estar presentes e assumir responsabilidades pelas soluções a implementar. Dever-se-á, também, evitar visitas sucessivas ao mesmo agregado, perante o incumprimento reiterado do aluno, mesmo que esteja em causa a sua continuidade. Em contrapartida, nestas situações, deverá ser reforçada a dimensão de aconselhamento individual do aluno desenvolvida no ponto 2.
Karcher, M. (2008). The study of mentoring in the learning environment (SMILE). A randomized evaluation of the effectiveness of school-based mentoring. Prevention Science, 9(2), 99-113.
Autoria: ufcaritasdosaco...@gmail.com
Consultado em http://groups.google.pt/group/tutal/web/a-tutoria-escolar-no-ensino-secundrio-algumas-reflexes em 30 de Junho de 2010
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